Tentação e Provação

Tentação e ProvaçãoTexto: Tiago 1:12-18

Infelizmente muitos cristãos não sabem discernir quando estão passando por provações e quando estão sofrendo tentações.

O apóstolo começa assim: “Feliz é o homem que persevera na pro­vação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam.” (v. 12). Esta palavra corresponde ao termo hebraico ashrê, e indica felici­dade, alegria. Para Tiago, a provação é uma bênção que o cristão não pode renegar. A palavra grega para provação é pcirasmos, que pode ser traduzida também como tentação.

Mas há uma diferença entre provação e tentação.

A provação é uma ação divina, em que Deus permite que passemos por momentos difíceis e que visa o nosso melhoramento. Esta ação divina pode ser vista com clareza nas Escrituras. Por exemplo, a Bíblia diz que Deus colocou Abraão à prova pedindo seu filho em sacrifício (Gênesis 22:1). Jó questiona porque o homem é posto à prova, se para Deus este não é nada (Jó 7:17,18). Paulo ressalta o amor das igrejas da Macedônia, apesar de estarem passando grandes provas e tribulações (II Coríntios 8:2). E o escri­tor aos Hebreus ressalta a fé de Abraão e de outros que sofreram provas e foram aprovados por Deus (Hebreus 11:17,36).

 

A Bíblia nos mostra a tentação como uma prova, um teste no sentido irrestrito, em que a pessoa e avaliada e suas qualidades são postas à prova. Mesmo sabendo que esta é uma ação de Satanás tentando desestabilizar os homens, sabemos que ele só age mediante permissão divina. Ou seja. Deus pode permitir que sejamos tentados, tendo cm vista uma ação que nos bene­ficiará.

Então Deus seria também um tentador?

A resposta é não! Tiago nos diz: “Quando alguém for tentado, não diga: ‘Esta tentação vem de Deus*. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo não tenta a nin­guém.” (Tg. 1:13). Devemos entender que Satanás não age sem permissão de Deus. Quem é o Senhor de todas as coisas no Universo é Deus e mais ninguém. Basta ler o início da história de Jó e você verá que Satanás não agiu independentemente.

 

O que faz os homens serem tentados é o desejo pecaminoso e isto não provém de Deus: “Mas as pessoas são tentadas quando são atraídas e enganadas pelos seus próprios maus desejos. Então esses desejos fazem com que o pecado nasça, e o pecado, quando já está madu­ro, produz a morte.” (Tg. 1:14,15). O importante é você saber que pode vencer a tentação. A tentação em si não se constitui pecado. Cristo foi tentado assim como nós mas não pecou (Mt. 4:1; Hb. 4:15). A tentação só se toma pecado quando a sugestão de fazer errado é aceita.

 

A Bíblia nos encoraja a vencer as tentações porque a força para isto vem de Deus: “As tentações que vocês têm de enfrentar são as mesmas que outros enfrentam; mas Deus cumpre a sua promessa e não deixará que vocês sofram tentações que vocês não têm forças para suportar. Quando uma ten­tação vier. Deus dará forças a vocês para suportá-la, e assim vocês poderão sair dela. (I Co. 10:13; II Pe. 2:9; Ap. 3:10). Cristo pode nos ajudar porque Ele sabe o que é ser tentado (Hb. 2:18).

 

Há com certeza uma diferença substancial entre a tentação e a prova­ção. Quando somos tentados o apelo é para que nos deixemos levar pelas obras da came e ceder aos nossos desejos pecaminosos. Quando estamos sendo provados o nosso caráter está sendo testado a fazer o mesmo que Jesus fez. Na provação temos a chance de andar nos mesmos passos de Jesus. Diferente da tentação, a provação se toma um desafio, um alvo a ser alcan­çado.

 

Pedro escrevendo as igrejas que estavam sendo perseguidas, diz: “Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser en­tristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique com­provado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado no fogo, é genuína e resultará em louvor, gló­ria e honra, quando Jesus Cristo for revelado.” (I Pedro 1:6,7).

 

Por isso Tiago termina destacando a pessoa de Deus e Seu caráter.

 

O clamor do apóstolo é que ninguém se deixe enganar (v. 16). Nos versos 17 c 18 ele ressalta as qualidades divinas: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou.”.

Vejamos as maravilhosas qualidades de Deus:

Ele é Imutável: “…descendo do Pai das luzes, que nâo muda como sombras inconstantes.”. A expressão “Pai das luzes” é única em toda a Escritura. É certo que “luzes” se refere aos corpos celestes, incluindo o sol. a lua e as estrelas (SI. 136:7-9; Jr. 31:35). A Bíblia atesta que o firmamento dos céus é obra criadora de Deus (J6 38:4-15,19-21,31-33; Is. 40:22,26). Ele como Pai mostra-se bondoso desde sua criação e sua bondade não muda. Logo depois Tiago aponta para três palavras: varia­ção. que no grego é parallagê é um termo astronômico, em que os corpos celestes estão em movimento e mudanças nas relações espaciais. Deus não é como os planetas que se movem. Ele é permanente, sendo a fonte do bem nunca do mal; mudança, que no grego é tropês, e também é um termo astronômico, sendo uma palavra empre­gada para indicar o movimento dos corpos celestes. Este termo está ligado a terceira palavra, sombra, que no grego é aposkiasma, indicando mudanças na posição do sol e que modificam as sombras pro­jetadas por sua luz. Tiago tenta relacionar a criação e sua mutabilidade. com a imutabilidade e constância de Deus. Podemos confiar no Senhor porque a Sua ação é a mesma. Ele não é inconstante como a natureza e os seres humanos.

 

Ele é Senhor: “Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, afim de sermos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou.”. E como Senhor Ele decidiu agir espontaneamente. É isso que a palavra grega boulêtheis quer dizer. A vontade de Deus dá vida, e isso não pode vir nunca dos homens. Por isso Ele não pode ser o agente da tentação, pois tudo aquilo que procede de Deus é bom. Nesta decisão Ele nos “gerou”, ou seja, a ênfase aqui é o novo nascimento.

 

A partir da “palavra da verdade”, que é Cristo (Jo. 1:1; 14:6), nascemos de novo e passamos a fazer parte da família de Deus (Hb. 2:10,11). Em Cristo nasce uma nova geração, que não é gerada pela carne nem o sangue, mas pelo Espírito (Jo. 3:3-8). E tudo isso aconteceu para que fôssemos os “primei­ros frutos”. Um filho primogênito tinha privilégios superiores, tais como, lugar de precedência na família, exercia autoridade sobre os irmãos mais novos, recebia uma bênção especial de seu pai, bem como a autoridade paterna e uma dupla porção na herança. Cristo é o primogênito (Cl. 1:18), e nele todos os crentes passam a participar de seus poderes e privilégios (Hb. 12:23). Os primeiros frutos também apontam para as colheitas, onde os melhores frutos eram dedicados a Deus. Assim, Deus é honrado com a dedicação das vidas daqueles que se submetem a Ele.

 

A tentação nunca pode vir de um Deus tão maravilhoso e sublime como Ele é. A tentação vem por causa do pecado, da carne que habita em nós e que tenta nos levar a fazer aquilo que desagrada a Deus. A tentação é operada por Satanás a fim de que nos afastemos de Deus. Já a provação é um momento em que a nossa fé passa por um teste. A provação visa sempre o melhor da nossa vida, o aperfeiçoamento de nosso caráter.

 

Que Deus nos ajude a sermos vencedores em todas as nossas provas e tentações.

 

Pr. Josias Moura

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