“Eu lhes dei a conhecer o teu nome, e continuarei a dar-lhes a conhecer o teu nome, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja”. João 17.26
Introdução: O Simples fato de Jesus, sendo Deus, ter vivido ter vivido aqui já é maravilhoso. Ele viveu por um curto período de tempo, não transitou pelos grandes centros de sua época, escolheu discípulos absurdamente comuns, foi profundamente solidário com os que viviam nas sombras do anonimato, abraçou miseráveis e leprosos, ganhou o “título” de “amigo de publicanos e pecadores” (Lucas 7.34), não fez alianças políticas nem propaganda de suas capacidades. Ele “assumiu a forma de servo” (Filipenses 2.7), revelando ao mundo a espiritualidade que se esvazia. Que compartilha a aproximação de um Deus que veio para andar conosco.
A Experiência Humana de Jesus
A experiência humana de Jesus foi difícil e emocionante. Difícil enquanto Deus caminhando entre humanos. Não deve ter sido fácil suportai’ o odor do pecado, a mediocridade em relação ã vida. Contudo, foi extremamente emocionante, pois o Criador estava entre suas amadas criaturas. O autor da vida (Atos 3.15) estava vivendo essa experiência humana. Encarnação é o fato mais marcante da história.
Um jovem judeu – Temos a tendência de sempre visualizar Jesus como um “super-ser”, sempre divinizado. Temos a tendência de vê-lo quase como um mito egípcio ou um membro da elite romana, entretanto, a grande verdade é que Ele era um jovem judeu! Em seu contexto, era um judeu do Século I, que tinha a poeira Palestina nas sandálias. Mesmo sua vida sendo amplamente profetizada, minuciosamente especificada nas falas proféticas, o Jesus humano nasce numa manjedoura, filho de uma virgem, ganha um nome comum e cresce num protetorado de um império pagão. Nenhum favoritismo.
Enfrentando conflitos - Ele enfrentou os mais diversos conflitos que a dinâmica da vida humana apresenta O escritor aos Hebreus afirma que Ele “em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hebreus 4.15). Jesus constantemente se encontrava com grupos extremistas como os essênios, os zelotes, os saduceus, os membros do Sinédrio, e, principalmente, os fariseus. Como Jesus promovia a redenção dos marginalizados, enfurecia os que se julgavam acima dos outros. Jesus enfrentou muitos conflitos porque assumiu um modo de vida conflitante: amava os que não tinham nada de amável, desejava os indesejados, se preocupava muito mais com os indivíduos do que com as multidões.
Lições da Tentação no Deserto
Um dos momentos decisivos da história humana de Jesus foi a tentação do deserto. Um dos grandes detalhes desse texto (Mateus 4.1-11) é que foi o Espírito quem levou Jesus ao deserto para ser tentado, o que nos mostra que, num mundo caído, não há espiritualidade verdadeira sem a experiência do enfrentamento de tentações. Somos tentados todos os dias.
Entre o jardim e o deserto – Em Gênesis 3, no Jardim um casal é tentado. O fato interessante é que o cerne da tentação do jardim é: “como é ser Deus?” O Diabo oferece ao homem a chance de “ser como Deus” (Gênesis 3.5), ele apela para o ilimitado, o fascínio, o mistério. Curiosamente, a tentação de Jesus, o segundo Adão, não é mais em um jardim, mas num deserto. Não mais acompanhado, mas sozinho. Não é mais uma questão de comer, mas de um prolongado jejum. E o cerne dessa tentação é absurdamente inverso: “como é ser humano?” Num cenário desolado, Jesus é exposto a uma devastadora questão: você está disposto a ser limitado? Lutero afirmou que o Diabo é míope, não consegue enxergar nada que é pequeno; e Jesus se associou a pecadores, aos marginalizados. Foi tão humilde, pequeno, que o Diabo o subestimou.
A sedução da facilidade - o Diabo oferece a Jesus uma humanidade sem crises. Transformar pedras em pães é saciar a fome sem precisar plantar o alimento; o pináculo do templo é a tentação de se tomar independente de Deus dentro do lugar sagrado. O pináculo fica acima do templo, no lugar onde o “Querubim da guarda” (Ezequiel 28.14) sonhava estar; é o fato de se jogar daquela altura sem o perigo real de morrer, oferecendo assim um espetáculo consagrador.
A distorção das Escrituras - o Diabo faz uso das Escrituras: “Está escrito” (Mateus 4.6). Ele tenta escravizar Jesus ao literalismo bíblico. Hoje, muitos charlatões usam do mesmo processo e, “em nome de Deus” (o mesmo “está escrito”), colocam na Bíblia promessas que Deus nunca fez. O capítulo 3 de Mateus termina com a afirmação da voz dos céus dizendo: “Este é meu Filho amado” (Mateus 3.17). O capítulo 4, a Tentação começa com o Diabo tentando colocar em dúvida a afirmação e o amor do Pai (Mateus 4.3). Ele propõe uma distorção de tudo quanto Deus diz em sua Palavra. Essa tentação da distorção das Escrituras ainda derruba muita gente. Muitos caem no erro de pegar versículos isolados e construir uma teologia tendenciosa e ofensiva ao caráter de Deus.
A Espiritualidade que Alcança os Marginalizados
A vida de Jesus foi vivida na direção dos marginalizados. Sua espiritualidade do oprimido revolucionou a concepção de Deus na teologia Jesus revelou um ângulo da natureza de Deus que poucos conheciam: um Deus humilde. O Deus das teologias farisaicas era todo construído com base em uma soberania que esmaga os infiéis, ou seja, uma teologia carente da graça Mas, surge no contexto histórico um homem chamado Jesus, e a soberania que esmagava, agora é “moída pelas nossas iniquidades” (Isaias 53.5).
O abraço da graça - Não há como explicar a graça. Ela não precisa ser explicada, precisa ser transmitida Ebi o que Jesus fez em sua vida: encarnou a graça. Ele viveu intensamente essa verdade de Deus em favor dos aflitos. Graça não é algo que se destina aos melhores, é algo que se destina aos que estão à margem da vida, aos que vivem sufocados pelos cabrestos do mundo, asfixiados pelas teologias legalistas, pelos estreitamentos dogmáticos, mecanismos religiosos sem conteúdos.
Um Deus acessível - No Antigo Testamento, as relações com Deus eram envoltas em um (distanciamento, um medo, uma mistura entre temor e adoração. Não era permitido tocar na arca, a sarça ardente indicava a cerimônia da aproximação cautelosa: “Tira as sandálias” (Êxodo 3.5), as visões de Ezequiel, tudo isso apontava para a idéia de um Deus com uma espécie de aviso: “cuidado”. Em quase todas as aparições de Deus, ou mesmo de anjos, a frase que acompanha a manifestação divina é: “não temas!” Contudo, em Jesus, essa espiritualidade temerosa se desfaz. Jesus é o Deus acessível. Ele já não precisa dizer “não temas”, agora diz: “Vinde a mim” (Mateus 11.28). Em Jesus, a humanidade encontra um convite: “quem quiser…” (Mateus 16.24).
A solidariedade divina – Jesus assumiu a humanidade sem reservas. Ele encarou as crises, sentiu o peso do cansaço, a fúria da natureza em alto mar, o desprezo, as acusações dos fariseus, mas, apesar de tudo isso, Ele não se tornou apático. Sentiu profunda compaixão pela viúva de Naim (Lucas 7.11-17). Quando caminhava para o Calvário, em imensa agonia, se preocupava com as mulheres que batiam no peito e lamentavam (Lucas 23.27-30). Ele se solidariza com os marginalizados porque os ama e porque se identifica com eles (Isaias 53.5,7).
Conclusão: A vida de Jesus foi a mais intensa manifestação do amor de Deus. Através da experiência humana de Jesus, podemos conhecer ângulos incríveis da natureza de Deus. A espiritualidade que Jesus viveu precisa ser imitada por seus discípulos na atualidade. Como disse o apóstolo Paulo: “Tudo o que fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Colossenses 3.17).
Pr. Josias Moura de Menezes