Texto: Atos 19:8-11
Daqui a quatro dias seguirei viagem para Atlanta, nos EUA, para participar com mais 39 líderes de diversos países de um Treinamento Intensivo de Discipulado promovido pela Perimeter Church, uma grande igreja presbiteriana comprometida desde a sua implantação com o discipulado. Aproveitando este momento especial da nossa igreja, quero retomar a reflexão sobre este que é um dos valores básicos da Pedra Viva, ao lado da adoração, comunhão, evangelização e serviço.
Éfeso era a capital e maior cidade da província romana da Ásia Menor com mais de trezentos mil habitantes. Nela estava o famoso templo para culto da deusa Diana (a deusa da fertilidade), construído durante 220 anos, considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo e orgulho da cidade. Paulo passou por Éfeso rapidamente a fim de deixar por lá o casal Áquila e Priscila (Atos 18:19-23) que foram os primeiros a lançar nela a semente do Evangelho. Pouco tempo depois Apolo também foi para Éfeso e, apesar de não ter uma compreensão exata da obra de Cristo, pregou com destaque na cidade (Atos 18:24-28). No início do capítulo 19 vemos Paulo retornando a Éfeso, onde não mais estava Apolo, e encontrando lá um grupo de discípulos de João Batista que, orientados por Paulo, passam a ter uma experiência genuína com Jesus e com o Espírito Santo (Atos 19:1-6). É neste contexto que passaremos a acompanhar a relação de Paulo com Éfeso percebendo que ela foi grandemente impactada pelo discipulado! Como se deu e se dá hoje este impacto?
I. Impactando A Cidade Com O Discipulado Pela Consciência Da Sua Necessidade (v.9-10)
Paulo fez um trabalho diferenciado em Éfeso: desenvolveu relacionamentos num lugar estratégico, a sinagoga, ponto de encontro natural de pessoas ligadas à fé; ministrou a Palavra com uma autoridade singular expressa em ousadia, clareza de comunicação, persuasão e foco no Reino de Deus. MAS, o plano que tinha tudo para der certo, uma vez executado revelou-se ineficiente: os resultados colhidos por ele foram “empedernimento”, descrença e uma oposição explícita e agregadora. Esta situação inicial de resistência levou Paulo a redirecionar sua estratégia para o discipulado.
O caminho do discipulado é uma necessidade por duas razões: primeiro, porque foi o caminho vivido (Marcos 3:13-15) e ordenado por Jesus (Mateus 28:18-20); segundo, porque os nossos ministérios, assim como o ministério de Paulo em Éfeso, não atingirão um alto impacto sem um investimento responsável na vida de algumas pessoas.... Não são poucos os pastores frustrados com a escassez de frutos ministeriais, mas, infelizmente, nem todos se convenceram de que o grande problema foi o descaso com o caminho do discipulado. Tudo então começa, quando somos possuídos por uma santa inquietação: não podemos fazer diferença na cidade sem sermos discipuladores na cidade!
II. Impactando A Cidade Com O Discipulado Pela Redefinição De Relacionamentos (v. 9)
Ter consciência da necessidade do discipulado é um importante passo, mas se ficar restrito ao campo das boas intenções será irrelevante e frustrante. Paulo foi extremamente ágil na vivência de sua missão discipuladora: separou-se daqueles que obstaculizavam a proclamação do Reino de Deus; saiu da sinagoga e foi para a escola de Tirano, um espaço alternativo que não tinha nenhuma relação direta com a fé cristã; trouxe para junto de os discípulos que encontrara em Efésios (v.7) e passou a estabelecer com eles uma aliança diária de aprendizado prático da Palavra de Deus.
Em nossa mentalidade muitas vezes tacanha quando pensamos no ensino da Bíblia, imaginamos um modelo escolar formal, onde um mestre profissional experimentado ensina aos seus alunos os conteúdos da fé cristã, mas sem qualquer preocupação de cultivar com eles um relacionamento transformador. Discipulado é um muito mais do que um curso no qual aprendemos algumas disciplinas cristãs, discipulado é um estilo de vida no qual o discipulador caminha com seu discípulo num relacionamento de amizade e, na medida em que caminha, vai ministrando por palavra e, por exemplo, os valores das Escrituras. Assim, fazer discípulos é relacionar!
III. Impactando A Cidade Com O Discipulado Pela Priorização De Uma Intimidade Continuada (v. 10a)
Redefinir relacionamentos é um segundo passo importante na busca de um impacto na cidade, mas exige um terceiro: o foco na intimidade. Lucas lembra que este investimento prioritário de Paulo em pessoas na cidade de Éfeso durou dois anos – não foi um relacionamento rápido, superficial, fugaz, pressionado por uma agenda cheia, foi um convívio diferenciado marcado por abertura de alma e coração, transparência, partilha, solidariedade, numa busca crescente de intimidade no Senhor.
Aqui está desenhada a estratégia de Jesus e que foi sabiamente seguida por Paulo: não basta atingir muitos de forma superficial em grandes encontros e eventos, é necessário atingir poucos de forma mais intensa, qualificada, profunda, íntima. Dedicar atenção especial a algumas pessoas, por um tempo prolongado, buscando cultivar com elas uma intimidade focada no conhecimento e vivência da Palavra, este é com certeza o caminho para impactar a cidade!
Conclusão: O impacto do discipulado realizado por Paulo em Éfeso provocou na cidade alguns resultados extraordinários:
1. Impacto abrangente (v. 10) – o discipulado em Éfeso extrapolou os limites de suas fronteiras – a cidade que era uma referência pagã através do culto a deusa Diana, tornou-se uma referência genuína do Reino de Deus. Se nos comprometermos verdadeiramente com o discipulado o Senhor “alargará o espaço da nossa tenda” (Isaias 54:1-3)....
2. Impacto legitimado por milagres (v. 11) – o compromisso com as ênfases de Deus resultou na manifestação intensa de Sua presença em Éfeso através de “milagres extraordinários” feitos por ELE pela instrumentalidade de Paulo: cura de enfermos do corpo (v. 12a) e de enfermos da alma (v. 12b). Se nos comprometermos verdadeiramente com o discipulado o Senhor nos levará a uma experiência contínua do Seu poder!
3. Impacto Cristocêntrico (v. 13-17b) – Lucas lembra que a experiência de uso indevido do poder de Jesus, tentada pelos sete filhos de Ceva, que eram exorcistas ambulantes, resultou num “grande coro” do diabo que, na sequência, provocou em Éfeso o engrandecimento do nome de Jesus. Se nos comprometermos verdadeiramente com o discipulado Jesus será engrandecido na vida de nossos discípulos e através deles!
4. Impacto sinalizado por transformações de comportamento (v. 18-19) – desde que Paulo passou por Éfeso e investiu na vida de pessoas a partir da escola de Tirano, a cidade nunca mais foi a mesma! Se nos comprometermos verdadeiramente com o discipulado o Senhor gerará mudanças comportamentais extraordinárias na vida das pessoas que caminharem conosco em discipulado!
5. Impacto reafirmador do poder da Palavra (v. 20) – o discipulado em Éfeso gerou uma nova visão da Palavra, pois foi acolhida como um absoluto para ser ouvido, entendido, obedecido e divulgado. Se nos comprometermos verdadeiramente com o discipulado a Palavra do Senhor prevalecerá poderosamente sobre nossa incredulidade, indiferença, comodismo, carnalidade, materialismo, mundanismo.... que Deus, em Cristo, nos conduza dia a dia a esta vivência em discipulado, gerando transformações extraordinária na nossa cidade, é a minha oração.
Pr. Jair Francisco Macedo