1. É para isto que eu oro, como Ana, a mãe de Samuel: para saber que Deus quebra o arco dos fortes e reveste de força os fracos (“Não há ninguém santo como o Senhor; não há outro além de ti; não há rocha alguma como o nosso Deus. Não falem tão orgulhosamente, nem saia de suas bocas tal arrogância, pois o Senhor é Deus sábio; é ele quem julga os atos dos homens. O arco dos fortes é quebrado, mas os fracos são revestidos de força” — 1Samuel 2.2-4).
2. É por isto que eu oro como Paulo: para entender que Deus “escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que para o mundo é insignificante, desprezado e o que nada é para reduzir a nada o que é, a fim de que ninguém se vanglorie diante dele. (1Coríntios 1.27-29)”.Na verdade, [Jesus] foi crucificado em fraqueza, mas vive pelo poder de Deus. Da mesma forma, somos fracos nele, mas, pelo poder de Deus, viveremos com ele para servir” (2Coríntios 13.4). Sim, a “fraqueza de Deus [demonstrada em sua plenitude em Jesus Cristo] é mais forte que a força do homem” (1Coríntios 1.25b).
3. É com isto que eu conto na oração: que os olhos do meu coração sejam iluminados, a fim de que conheça a esperança para a qual fui chamado e possa fruir as riquezas da gloriosa herança e a incomparável grandeza do seu poder, conforme a atuação da sua poderosa força (Efésios 1.18-20). Logo, se fosse me orgulhar, eu me orgulharia naquelas coisas que mostram o quanto eu sou fraco (2Coríntios 11.30).
4. Há poder no Deus a quem oramos, não na oração que fazemos.
5. Há poder em quem escuta, não em quem faz a oração. A oração do justo pode muito (Tiago 5.16) por causa dAquele a quem ele ora.
6. Eis o paradoxo central da oração: não há poder sem fraqueza. É na oração que se conhece o poder de Deus, que se demonstra na sua fraqueza, quando foi forte (na cruz) para não abrir mão de sua morte, e na nossa fraqueza, quando vemos que tem poder quem depende de Deus. (Ouçamos a confissão de Paulo: “Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. Mas ele me disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim” (2Coríntios 12/8-9).
7. Aquele que vive com Cristo e morre com Ele ora assim: “Quero conhecer a Cristo pessoalmente, experimentar o poder de Sua ressurreição, ser parceiro de Seu sofrimento e seguir com Ele até à morte” (Filipenses 3.10). Isto é que é sucesso! Isto é que é vitória! Isto é que é poder!
8. Oração a Deus é amizade com Deus, amizade que se evidencia no prazer de estar com Ele, mesmo que a glória tenha um peso; em aprender o Seu idioma, mesmo quando é difícil, e em não ter medo dEle, mesmo quando o fogo consome.
9. O falso poder da oração é a sedução da oração de poder. O verdadeiro poder da oração é o poder da entrega, é o poder da perda; é o poder de não fazer; é o poder da renúncia ao poder, como aconteceu com o apóstolo que, tendo sido arrebatado ao paraíso onde ouviu coisas indizíveis, não se gloriou no êxtase, mas no espinho que recebeu para que fosse aperfeiçoado nas suas fraquezas e aprendesse que quando estava fraco é que estava forte (2 Coríntios 12.3-10). Isto se aprende quando se ora.
10. O poder da oração é o poder de ver o poder de Deus em ação, mesmo fora dos padrões que imagino para me dar uma visão da Sua glória. Precisamos desespetaculizar a oração.
11. O poder da oração está em saber ouvir, mesmo que seja um “não”. Precisamos desinfantilizar a oração, deixando de bater os pés no chão quando os nossos caprichos não são atendidos.
12. O poder da oração é o poder de viver no ritmo da graça, mesmo que o problema não seja resolvido (ou, quem sabe, precisamente porque o problema não é resolvido é que não abandono a espera da misericórdia), mesmo que a vida do outro não seja mudada. Precisamos desabracadabrizar a oração.
13. Tem poder na oração quem ora sabendo que não sabe o que pedir. Graças a Deus, “o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza” e “intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26). Oração de poder, portanto, é a oração traduzida pelo Espírito Santo.
14. Tem poder na oração aquele que se deixa manipular por Deus, renunciando radicalmente à tentação de tentar manipulá-lO.
15. Ter poder é orar confiando que será ouvido; é orar esperando que vai receber ou o que se pede ou o que se precisa; é orar entendendo o que Deus faz, mesmo sem entender o que Ele está fazendo ou dizendo. (A instrução de Jesus é diretiva: “Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e àquele que bate, a porta será aberta” — Mateus 7.7-8).
16. Uma fábula: encontrei um governante de Estado numa biblioteca. Junto, estava um meu ex-aluno, que se apresentou como assessor. Pedi-lhe depois o favor de um simples endereço eletrônico do governante. Demorou para me mandar. Descobri depois que não era assessor; tratava-se apenas de alguém que se acercava para poder tirar proveito do acesso. Os áulicos que se aproximam de Deus para obter favores perdem o seu tempo. Ele não gosta de cortesãos, que com Ele não traficam influências. Deus não é humano. Precisamos desidiotizar a oração. Deus não se deixa seduzir pelos elogios que Lhe fazemos quando oramos, especialmente aqueles de voz impostada. (Já nos antevendo, Jesus nos instruiu: “E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas, quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará. E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem” (Mateus 6.5-8).
17. Poderoso na oração é quem vive sem ansiedade, deixada sobre os ombros de Jesus; é quem vive sem medo, lançado fora pelo amor. (“Dessa forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança, porque neste mundo somos como ele. No amor não há medo; ao contrário, o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro” — 1João 4.17-19).
18. Poderoso na oração é quem tem a própria vida mudada (não as coisas, não as circunstâncias, não as pessoas), deixando-se modelar por Deus. (“Deus, que disse: “Das trevas resplandeça a luz”a, ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós. De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos” — 2Coríntios 4.6-9).
19. Nossa vida de oração tem a ver com a resposta que damos à seguinte pergunta: onde está nosso interesse? Se for na diversão, não haverá oração. Se nossa vida for uma busca ao tesouro, não haverá bênção. (Jesus nos adverte: “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” — Mateus 6.19-21).
20. Diante disto, conclamo a todas as gerações daqueles que estão arraigados e alicerçados no amor de Deus, para darmos glórias “Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós”. Só assim, na companhia daqueles em quem Cristo habita, compreenderei a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor que excede todo conhecimento, serei fortalecido no meu íntimo com o poder que vem por intermédio do Espírito Santo (Efésios 3.16-23). É para isto que eu oro.
Autor: Israel Belo de Azevedo